#### #002197 – 04 de Junho de 2025

#002197 – 04 de Junho de 2025

Moonlighting, com Cybill Shepherd e Bruce Willis, teve um episódio em que tudo e mais alguma coisa aconteceu. Tornou-se um musical a meio, foi quebrada a quarta parede, foi revelado o cenário, as personagens, ainda a cantar saíram do estúdio para a rua, a letra da canção falou sobre a queda nas audiências, o possível cancelamento da série e a necessidade de surpreender os espectadores. O episódio “The Betrayal”, da temporada 9 de Seinfeld é contacto de forma linear mas no sentido do passado. Não me lembro de mais nenhuma narrativa no ecrã contada assim, geralmente há flashbacks, até flashbacks consecutivos, mas este episódio da sitcom americana foi contado em cenas curtas, consecutivas, em que a cena seguinte se passava sempre no passado, até que a última cena é Jerry, 11 anos no passado, a chegar ao apartamento e a conhecer Kramer. A cena inicial é incompreensível e as seguintes, no passado, vão explicando o presente. Até que, estabelecido o método, o argumentista brinca com ele. A quarta parede não é quebrada, mas há o mesmo tipo de cumplicidade com o público que o stand-up tem, em que o comediante faz com que o público se ria da própria construção, essa espécie de pacto em que comediante e público se riem ambos do que acontece em palco. Aqui argumentista e audiência estão nesse plano, a olhar para um mesmo artefacto. As séries actuais têm uma métrica de sucesso diferente: quão binge-worthy é uma temporada? Isso torna o arco narrativo diferente. Por muito que goste da qualidade geral das séries, quando comparada com os anos 80 e 90, em que cresci, tenho saudades de ver episódios experimentais, quando uma série estabelecida já se tinha tornado previsível e perdia audiência. Talvez hoje em dia haja demasiada informação sobre o que “funcione”, que tipo de imagens e histórias produzem mais engagement. Mas é uma pena. Havendo menos margem para falhar, há também menos chance de criar algo inesperado.