#### #002191 – 29 de Maio de 2025

#002191 – 29 de Maio de 2025

Ler é tão estranho. A linguagem é o humano em construção. Ler é ganhar abstração mas também tocar nas partes muito concretas que existem no íntimo graças à linguagem. Escrever é ler meditando. É, como a meditação, esse processo frustrante e edificante em que se pára sempre, depois de meros segundos de conexão com o íntimo, se corrige caminho, se emenda, se repara nos sulcos em que se derrapa sempre. A linguagem só por si parece dar origem à consciência. Edgar Morin parecia convencido que as crianças desprovidas de linguagem não eram inteiramente humanas. E frequentemente escutamos que a desconhecida história do surgimento da linguagem humana coincide com o aparecimento dos humanos. Talvez isto ajude a explicar a superstição dos que acreditam que um programa de computador um dia se tornará consciente. Sobretudo os large language models têm inspirado esta crença de algumas pessoas que a inteligência artificial irá emergir. Começámos por usar a expressão, colocando a carroça à frente dos bois. Mas os bois também empurram e os senhores tecno-feudais são muito proficientes na arte de empurrar problemas com a barriga. E mais ainda em criar problemas para depois nos venderem soluções.